Capitulo I

Dois anos atrás

        Olho com frustração para o sorriso irônico de Richard, quanta beleza está sendo substituída pela ironia do meu melhor amigo, estamos no aeroporto internacional de Nova York esperando o voo com destino ao Rio de Janeiro. Richard esta todo contente por que vai conhecer o Brasil, quanto a mim, eu não estou contente, pois estamos indo visitar minha querida mãezinha, que fez o favor de me abandonar quando eu era uma criança.
              Richard é o meu melhor amigo, louro, alto, olhos azuis, o sonho de qualquer garota, menos o meu, amo-o como se fosse meu irmão mais velho, pois ele foi a primeira pessoa que conheci quando cheguei a Nova York, foi meu guia turístico por muitos anos, e hoje eu sei o quanto ele gosta de estar comigo, só temo que ele não saiba distinguir os amores da vida.

-  Não vejo a hora de pisar em terras brasileiras, sou descendente de índio, você sabia? - Ele diz levantando uma das sobrancelhas. 
- Você já deve ter me contado. 
- Imagina que lindo que eu vou ficar usando sunga. - Esqueci de mencionar que ele tem a alto-estima bem elevada e zero por cento de humildade. 
- Sunga?
- Eu pesquisei na internet e vi que o Rio de Janeiro tem praias lindas.

               Em poucas horas eu espero que o mundo gire e me tire dessa zona de desconforto, entrar em um avião rumo ao meu país, no meu caso, não será nada fácil, sair dessa cidade para tentar me encontrar em outro lugar provavelmente não é a melhor opção, mas é uma opção, ou melhor, é a única que me resta, já que meu pai não me deu alternativas – Você vai, Ana, não tem conversa. - essas foram as palavras do senhor César. Fico feliz por ele ter aceitado minha condição, eu não viria se Richard não viesse na bagagem. 

 - Ana, olha seu pai ali. - Richard diz apontando para César.

            Dói-me saber que em poucas horas eu estarei longe do meu pai, longe da pessoa que me acolheu enquanto minha mãe nos deixava, ainda lembro-me das lágrimas que derramei por causa dela, das histórias que ela contava para me fazer dormir, dos abraços apertados que eu ganhava quando sentia medo do escuro ou do bicho papão, eu a odiei por anos, pois a saudade foi se tornando revolta, revolta por ela nunca ter me procurado. Eu acredito que ela não se importa mais, coisa que eu deveria fazer também, não me importar.

- Por sorte eu conseguir comprar a passagem do Ricky. - Meu pai sempre muito prestativo, bancou toda despesa dele.

- Senhor César, muito obrigado por tudo, eu vou cuidar da Ana. - Educadamente Ricky  agradece ao meu pai.
- Pai, eu vou sentir sua falta. - Eu digo suavemente ao dar um abraço de despedida. - Amo você. 


***
          26-A foi o número da minha poltrona, por sorte eu conseguir pegar uma poltrona ao lado da janela, ao contrario de Richard ficou em 72-B, aos poucos o avião vai lotando, e a cadeira ao meu lado ainda está desocupada  e eu estou rezando para que a má sorte dele não venha me fazer uma visita, pois ele acaba de me dizer via sms que sua companheira de Voo não cheira bem. Eu queria muito que ele estivesse aqui, voar não é algo que eu ame, na verdade eu tenho medo de altura, ou melhor, tenho medo que este avião caia antes mesmo que eu chegue até o Rio de Janeiro, não será nada mal ver meu melhor amigo de sunga, ele tem um corpo perfeito, malhado e definido são caraterísticas de um corpo perfeito pra mim. Não! Eu não acredito que eu escrevi isso. 
      Já estamos iniciando a decolagem, meu coração acelera e minhas pernas tremem, eu tenho pavor de avião. " Pensar em outra coisa, repito três vezes". A cadeira ao meu lado ainda esta vazia, que estranho, meu pai tentou comprar o 26-B e já estava preenchido. Aposto um dólar que Richard irá sentar-se ao meu lado. 
           Pessoas ainda entram no avião, estamos há kilometros do chão e pessoas ainda estão se instalando. Suponho que um deles sejam o dono da cadeira ao meu lado, um homem careca senta na cadeira da frente e uma moça loura senta ao lado dele. Uma mulher de cabelo preto e perfeita simetricamente senta logo atrás, e um rapaz forte e desastrado senta ao meu lado.
- Lincença ai moça - É o que ele diz, e eu apenas dei um sorriso. Deus  ele é tão lindo e tem o sotaque tão fofo. Além do mais ele é muito cheiroso, senti quando ele sentou-se ao meu lado.
- Você tem medo de voar? - Ele tem o sotaque muito fofo, o você dele sai no tom de "Ocê".
- Sim! 
           Eu nunca fui boa com garotos, eu realmente devia ter tido " Sim, eu tenho um pouco de medo" eu simplesmente acabei com o assunto.

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Prólogo


“Quando depositamos muita confiança ou expectativas em uma pessoa, o risco de se decepcionar é grande.” “As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui, para satisfazer as delas.”
            Trechos do poema “Borboletas”, Mario Quintana.

            


Da janela do meu quarto tenho a visão privilegiada da lua cheia, o reflexo do seu brilho banha o rio, sinto que o vento frio invade minha alma, querendo me dar respostas para o que eu realmente sinto. Solidão talvez seja a resposta mais sábia, entretanto não é a resposta correta. Dirijo-me até a minha cômoda e vejo meu reflexo no espelho, não é tão lindo quanto o reflexo da lua sobre rio, pois eu não sei exatamente quem eu vejo através daquele vidro. Uma pessoa que está com cinco quilos a menos, com olheiras que divulgam más noites de sono e cabelo que provavelmente nunca recebeu a visita de um pente. Enfim, esta sou eu, em busca de algo que me faça sorrir, ou pelo menos tentar. Gostaria que o sono me fizesse uma visita, pois ultimamente insônia e eu somos melhores amigas, ao contrario da fome que também poderia aparecer, ou quem sabe algum amigo, se é que ainda tenho algum por aqui. Sinto-me só, pagando por um erro que não cometi, sofrendo desprezo das pessoas que diziam me amar e estar sempre ao meu lado. Nem mesmo Richard, que dizia ser meu melhor amigo acreditou em minhas palavras. Definitivamente as coisas poderiam ter sido diferente, mas o destino quis assim, e eu não posso mudar.

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